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#1 Serifado, o adeus ao sadboy e Wislawa Szymborksa

Fiquei com saudades de escrever e estava precisando tirar algumas coisas da cabeça, então bem-vindo, I guess...

Eu em um café charmosinho em Buenos Aires no inverno de 2022.

"It is a truth universally acknowledged that a single man in possession of no fortune, must be in want of attention."

Comecei este texto mais vezes do que gostaria. Escrevi tudo, reli tudo, hesitei sobre tudo e apaguei tudo. Acho que ninguém quer ler sobre as inseguranças sobre se lançar uma newsletter. Ainda mais porque é irracional, já tive uma dezena de blogs, escrevi muito por aí. Tarde demais para me preocupar com o que vão falar do meu texto ou se vão me achar cringe. Não é sobre isso, apesar de gostar da ideia de lapidar meu texto conforme o tempo avança. É mais sobre ter um espaço para falar daquilo que eu gosto e ter um projeto pessoal que tire minha cabeça de outros lugares, onde deveria estar apenas 8 horas por dia.

Fiz 30 anos recentemente e não houve mudanças significativas, porém toda aquela expectativa se transformou em perspectivas que estão sendo bem-vindas. A mais marcante é de querer deixar para trás alguns vícios: o cinismo, o desgosto fácil, a obrigatoriedade da opinião e pontos de vista de gente que passa tempo demais no Twitter. Me vejo, hoje, mais fluído que isso. Pode discordar à vontade. Se tem uma coisa que esse espaço se compromete é com a hipocrisia.

Isso posto, a ideia da newsletter é perfeita. Cai na sua caixa de entrada, você pode ignorar, descadastrar, não vou levar para o pessoal.

O nome Serifado, aliás, vem de… aquele filme lá… aquela banda…

Eu gosto de fonte Serifada ¯\_(ツ)_/¯

Já vai se acostumando com o anticlímax. Aqui é um espaço de edging

Ainda sou sadboy?

Essa newsletter é Thurston Moorefóbica.

As três décadas completadas me trouxeram também a vontade de me revisitar. Começou como uma curiosidade mórbida, avançou como uma investigação sobre se o que eu gostava lá atrás faria sentido para mim hoje, e terminou como surpresa, superação e reconexão.

O início de tudo foi com Gilmore Girls. Revejo todo ano. De longe a série que mais me traz conforto. Quem já assistiu sabe, se piscar um pouco mais demorado você perde umas trinta referências que a Lorelai joga para o alto. Várias delas foram combustíveis para esse retorno. Depois veio o anúncio de jogos de Game Boy e Game Boy Advanced no Switch, juro, tesão nostálgico. Por fim, falando com amigos, soube do Soundiiz, serviço que transporta playlist de um streaming para o outro. Loguei meu abandonado Spotify e importei algumas playlists para o Apple Music. Entre elas, tinha uma chamada de “n”, o propósito dela era compilar as minhas músicas favoritas. Na época eu era ruim de dar nomes para playlists, hoje eu me considero bom. Vide a “Vontade de um Bareback.”

Pelos testes que fiz, o embed da playlist não aparece no e-mail, então segue aqui.

Sintam-se a vontade para gongar, eu achei que faria o mesmo, mas fui surpreendido positivamente ao entender que a grande maioria dessas músicas, muitas delas que não ouço desde aquela época, ainda reverberam em mim.

Primeiro que começa com Fado Tropical, que é a coisa mais linda do Chico e do Milton. A segunda a gente vai ignorar por enquanto, trago um parágrafo só pra ela em breve. Tem Portishead, Morrissey que ainda não havia se tornado um escrotão - ainda acho a letra de Irish Blood, English Heart bem potente -, Bowie, a minha favorita do MGMT que tem 13 minutos. Fiquei triste ao lembrar que o Mark Lanegan morreu. Me reconectei com a Patti Smith, lembrei da última vez que ela veio para o Brasil. O show foi no meu aniversário e eu não poderia ter escolhido maneira melhor de comemorar. Lembrei que gostava da Polacheck lá atrás quando ela fazia parte do Chairlift, ainda prefiro ela lá, mas o rio precisa seguir seu curso. Chorei com Ben's My Friend do Sun Kill Moon. Enfim, o ponto está mais que defendido, ainda me vi ali.

Por falar em Patti Smith, ela postou um vídeo lendo Just Kids e lembrando do Mapplethorpe no dia da morte dele e eu chorei só de ver o título.

Colocava a playlist sempre para tocar no aleatório e todas as vezes parei de ouvir, não de forma deliberada, antes de ter a chance de escutar New Dawn Fades do Joy Division. Para quem está comigo há um tempo sabe que foi minha banda favorita por muitos anos. Tinha algumas camisetas, um dos pontos altos da minha vida foi ver o Peter Hook ao vivo, trocava ideia com a filha do Ian Curtis em alguma rede que não me lembro qual, assistia Control várias vezes… A banda norteou minha personalidade de adolescente/calouro da faculdade como sadboy post-punker.

Foto de nove anos atrás. Juro, eu era insuportável 😍

Desencanei da banda quando me mudei para São Paulo. Muita coisa nova me atravessando e eu segui o flow. Entre as responsabilidades de adulto não me sobrava tempo, nem energia, para ouvir um cara escroto (beijo Deborah Curtis) falar sobre Como É Difícil Viver™. Mesmo assim senti um frio na barriga quando a música finalmente achou seu caminho entre a aleatoriedade. Eu queria odiar a música! Ao mesmo tempo queria amar. Isso porque sinto um carinho muito grande por esse menino cujo corpo era 90% dominado pela ansiedade. Foi fácil demais me encantar pelo discurso de mundo cruel, no fim eu só não gostava de morar no interior mesmo…

Mais um caso de

“I think I'm in love (probably just hungry)” - Spiritualized

A música é toda dramática, tem uma letra mega deprimida, barulhos de correntes e a ambientação faz você se sentir naquela caverna que começou como adega no conto The Cask of Amontillado do Edgar Allan Poe:

A change of speed, a change of style
A change of scene, with no regrets
A chance to watch, admire the distance
Still occupied, though you forget
Different colors, different shades
Over each mistakes were made
I took the blame
Directionless, so plain to see
A loaded gun won't set you free
So you say

Caralho meu amigo, vai tomar um SOL.

No fim das contas nem amei nem odiei (eu avisei que o anticlímax seria real). Entendi tudo que tinha para ser entendido e no meio da música pulei para a próxima. Veio Sonic Youth, lembrei que eu amo, muito. Tô viciado desde então de novo. Olha que maravilha, mais um caso de “entre a briga da Hailey Bieber com a Selena eu não sabia de qual lado ficar então bloqueei a Demi.”

Você tem alguma playlist que reúne as músicas que você mais gosta? Me mostra?

A poeta polonesa com nome difícil

Muito preciosa tomando o cafézinho dela.

Poesia foi outra área que revisitei. O saldo foi positivo:

- Ainda amo Manoel de Barros, como amava lá atrás;

- Definitivamente não gosto mais do poema que o Ian Curtis escreveu e eu dizia por aí que era o meu favorito. Essa ambição desmedida de grandeza não faz mais sentido para mim;

- Fiquei com preguiça de revisitar alguns autores, então vamos apenas com os dois exemplos acima mesmo. Isso porque eu gosto muito do que eu tenho consumido ultimamente e adoraria que aquele menino ali de 16 anos pudesse ler algumas dessas coisas, acho que ele ia curtir bastante.

Principalmente a Wisława Szymborska. A bicha é braba! Ganhou Nobel de Literatura e tudo mais. Achei bacana que foi o Tik Tok que trouxe ela até mim, em um vídeo do Ricardo (@my.casual.poetry). Acho chiquérrimo que ele sabe pronunciar o nome dela. Comprei de imediato a coletânea de poemas e logo em seguida o Para o Meu Coração Num Domingo. Lindo, lindo, lindo. Fiquei tão espantado em concluir que ela aborda temas que cerceiam os mistérios da existência, em comum com o vocalista do Joy Division, mas não poderia ser mais na contramão. De uma simplicidade de propósito tão magnética.

Trago um pedaço da Quatro Cinto Um que relembra uma palestra do Jorge Luis Borges em Harvard para fazer um paralelo com a poesia da Szymborska:

Numa das palestras que Jorge Luis Borges deu em Harvard em 1967-68, o poeta argentino chamou a atenção para dois estilos de poesia — um “elaborado” e outro “simples” — e, em seguida, advertiu: “Podemos ter [...] poesia bastante notável escrita com simplicidade, e tal poesia, para mim, não é menos admirável — aliás, acho às vezes que é mais admirável — do que a outra”. Cada novo poema de Wislawa Szymborska (1923-2012) com que me deparo acende a lembrança dessas palavras de Borges. E é também difícil imaginar poetas que, como ela, ilustrem tão bem outra afirmação da mesma palestra: “As palavras [começam] como mágica e [são] reconduzidas à mágica pela poesia”.

Para terminar essa sessão, vale ler um poema da própria. Eu gosto especialmente deste:

 Retornos

Voltou. Não disse nada.

Mas estava claro que teve algum desgosto.

Deitou-se vestido.

Cobriu a cabeça com o cobertor.

Encolheu as pernas.

Tem uns quarenta anos, mas não agora.

Existe – mas só como na barriga da mãe

na escuridão protetora, debaixo de sete peles.

Amanhã fará uma palestra sobre a homeostase

na cosmonáutica metagaláctica.

Por ora dorme, todo enrodilhado.

Wislawa Szymborska

Até a próxima

Tá ótimo para uma primeira edição, né? Eu achei!

Vou deixar aqui três Tik Toks que vi ou me mandaram essa semana e eu gostei.

@planetmoney

Here's how Silicon Valley Bank collapsed. #svb #banking #economics #siliconvalleybank #learnontiktok

@masked.women2684

See dead people.... More than 200... #reading #medium #pcychic #thomasjohn #seatbeltpsychic #seatbeltpsychicclips #subtitles #subtitlesmal... See more

@joshandmattdesign

Space age furniture >>> 😍 #spaceage #furniture #chair #interiordesign #design #estatesalefinds

É isso então, hein?

Obrigado por me ler.

Até a próxima.

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