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#2 Agradecimentos, saúde mental na pandemia e homus

A pandemia me ferrou e estou sentindo seu reflexos até hoje, fiz uma pasta de grão-de-bico como um passo para a superação.

Aqui uma playlist de 5 músicas para entrar no mood da leitura > Spotify | Apple Music.

Espero que seja o suficiente.

Detesto o vídeo subsequente da pessoa que hita no TikTok. Dois minutos agradecendo e dizendo como não esperava alcançar tanta gente. Dez segundos de agradecimento são o suficiente. Conta para gente a parte dois. Preciso ir para o próximo vídeo.

Isso posto, levando a sério o comprometimento com a hipocrisia, vou fazer o mesmo aqui. Espero não demandar mais do que um minuto de leitura. Preciso dizer, estou muito agradecido e surpreso com a recepção do meu modesto projeto. Esperava contar com apenas dez assinantes, todos amigos pessoais que me apoiariam incondicionalmente. No entanto, tive um pouco mais. A taxa de abertura também me surpreendeu, talvez tenha sido a sorte de um iniciante. De toda forma, o que me deixou verdadeiramente feliz não foram os números, e sim as mensagens recebidas, uma mais incrível que a outra, com encorajamentos, elogios, toques de ortografia, sugestões e até mesmo aprofundamentos de alguns temas pontuados. Em alguns casos, despertei essa vontade de criar uma newsletter também.

Tive uma semana incrível por conta dessa recepção. Printei todos os feedbacks, kinda creepy, eu sei, mas é para poder ler tudo quando tiver duvidando de mim.

Obrigado por me ler, de verdade!

Você superou a pandemia de verdade?

Ainda penso muito nessa máscara da Lana.

A BBC publicou, no começo do mês passado, um artigo com o título “A crise de saúde mental decorrente da pandemia de Covid foi mínima - estudo.". Abri o Tweet com menos de 1 minuto de publicação para ler. Já achei super esquisito que no primeiro parágrafo tinha afirmações universais como:

"Em nível populacional, houve um alto nível de resiliência durante a Covid-19", dizem os pesquisadores canadenses, de instituições como as universidades de McGill, Ottawa e Toronto.

"E as mudanças na saúde mental em geral, nos sintomas de ansiedade e nos sintomas de depressão têm sido mínimas ou pequenas."

Imediatamente, busquei entender a metodologia aplicada nesta pesquisa, investigando detalhes como o local, período e perfil dos participantes. Não deu outra. A maioria dessas pesquisas foi realizada em países de alta renda da Europa e Ásia. É evidente que essa amostragem não chega perto de refletir o restante do mundo. Caso deseje se informar sobre estudos mais abrangentes sobre este tema, sugiro clicar aqui.

Após a leitura, retornei ao Twitter e salvei a publicação nos favoritos para poder acompanhar a repercussão quando mais gente fosse impactada. Ao final do dia, para a minha surpresa, os usuários da rede já haviam adicionado um contexto adicional à publicação original:

A ferramenta de desmentir as pessoas é uma das poucas coisas boas do Twitter na era comandada pelo divorciado.

Para investigar a quem interessa fazer uma matéria desvalorizando a saúde mental das pessoas impactadas pela pandemia do vírus mortal, resolvi fuçar os comentários e citações. Trombei com esse quote do Ryan Broderick, autor da newsletter “Garbage Day” onde versa sobre cultura da internet.

“Eu não menciono isso com frequência porque não quero ser um chato, mas acredito que o mundo inteiro ainda está experimentando um episódio psicótico em larga escala graças à pandemia, que está afetando todos os aspectos de nossas vidas e é agravado pela nossa incapacidade de admiti-lo.”

Esta reflexão me interessou muito mais do que investigar uma suposta agenda oculta. Já tinha uma teoria mal-elaborada sobre isso. Foi por um caminho não convencional que cheguei até ela: subindo em uma balança de bioimpedância na casa de um amigo.

Se você não está familiarizado com essa balança, não se preocupe, eu também não estava. Basicamente esse instrumento funciona por meio de uma corrente elétrica de baixa intensidade, que percorre o corpo para obter dados. Ela te entrega um relatório completo: gordura corporal, nível de água e proteína, metabolismo basal, gordura viceral, quantidade de músculos, massa óssea e etc. Todas essas informações são classificadas em uma escala de insuficiente, normal e ótimo. Ao final da análise, a balança te fornece uma idade para o seu corpo de acordo com aqueles dados, além de dicas para “alcançar” a sua idade de fato.

Quando saio do pilates me sinto shaped like MewTwo.

Meu nível de água estava insuficiente, atribui ao calor do dia. Além disso, a porcentagem de gordura corporal estava um pouco mais alta do que o normal, mas não me surpreendeu, sempre tive facilidade em ganhar e perder peso. Fiquei um pouco espantado ao descobrir que meu nível de proteína estava abaixo, na minha cabeça eu me alimentava super bem… Por fim, a gordura visceral estava alta, em 12, o recomendado pela balança é até 9. Pirei, juro! Fiquei assustado. Afinal, o Google me disse que é um tipo de gordura que envolve os órgãos vitais e pode ser prejudicial se não for tratada. A título de curiosidade, o meu corpo para essa balança tem 35 anos, faço 31 no fim do ano. How rude?

No mesmo dia, decidi que faria uma dieta mais balanceada e praticaria mais exercícios. Foi um sucesso. Segui à risca a semana toda. A balança até me disse o tipo de proteína que eu deveria comer. Detesto beber leite, que inferno.

Depois disso em ordem, passei a refletir o que havia acontecido para chegar a esse ponto. Não foi difícil, já tive esse momento de reflexão com uma dor lombar persistente, coisa de uns 4 meses, que não teve quiropraxista que resolvesse (por sorte o pilates tem se mostrado efetivo). A resposta é muito clara: pandemia. Foram quase 3 anos em que se não estou sentado, estou deitado. Não me movimentei para nada, pedi muito Ifood, a receita do desastre estava mais do que posta.

Não parei por aí, queria entender como a pandemia me afetou de outras formas. Por aqui ela bateu pesado: desenvolvi um medo paralisante de morrer e perder pessoas que amo. Para escapar dessa angústia, passei uma temporada na casa da minha irmã e outra na casa dos meus pais, enquanto ainda pagava meu aluguel em São Paulo, cidade que enxergava como altamente mortal. Surtei! Assistia a uma média de cinco filmes por dia para tirar a cabeça do assunto. Evitava sair do quarto quando minha família estava assistindo ao Jornal Nacional, mas um dia sem querer fui beber água enquanto o Bonner mostrava as valas abertas no norte do país. Me deu teto preto, achei que fosse desmaiar.

Outro exemplo para ilustrar essa gravidade foi quando precisava fazer um relatório semanal para a agência global do meu cliente, um panorama geral do país, incluindo os dados da Covid. Toda semana inventava uma desculpa para o meu time interno e pedia ajuda para preencher essa seção. O computador travou, precisei ir na farmácia, minha internet… A alienação, os remédios controlados e minha família eram as únicas coisas me mantendo de pé.

Em 2020 assisti a 276 filmes, o que para mim é muita coisa. Trouxe também um pouco da vibe que eu estava buscando assistir.

Isso tudo para dizer que recebi uma carga muito forte de emoções e até hoje quando penso na pandemia tenho um sentimento extracorpóreo, não consigo acreditar que passei por isso. Não perdi ninguém para a Covid, peguei o vírus uma vez, veio de leve, mas mas se foi levando um pouco do meu cabelo e memória. Cheguei a conclusão que preciso de reparos para além do meu corpo, é importante entender quais padrões de comportamentos desenvolvi pós-pandemia e como esse ímpeto de vida pode me levar para lugares que não quero ou preciso ir agora. Surge também a dúvida se minha ansiedade está controlada ou se essa calmaria é indício de mais um quadro depressivo. Vou procurar profissionais que me ajudem a entender, o mesmo vale em relação a gordura visceral e os problemas da balança. Não me considerem irresponsável, uma coisa de cada vez.

Por fim, acredito que, enquanto coletivo, reprimimos muito os efeitos da pandemia e agora que a nossa mente está recebendo indícios de terra firme, chegou a hora de lidar com as consequências. A minha dinâmica para isso começa como investigação, mas estou vendo por aí se manifestar de outras formas, se transformando em mania mesmo. Há uma vontade desmedida de tirar o atraso, de viver intensamente tudo aquilo que nos foi privado por um período excruciante de tempo, ou apenas um cansaço absoluto de lutar para viver e manter com vida as pessoas a nossa volta. Não tem cabeça que aguente.

Você tem notado isso nas pessoas ou em você? Me conta? Acho que vale um check-up!

Um homus feito por alguém que detesta cozinhar

Ficou bonitinho, né? Fiquei orgulhoso.

Não sou fã de cozinhar, vamos tirar isso da frente. Não tenho interesse em aprender coisas novas ou ter uma receita associada a mim. Quando eventualmente enfrento o fogão, estabeleço padrões elevados para o resultado. É imprescindível que o prato se iguale ou se assemelhe minimamente àqueles que peço por delivery ou aprecio nos restaurantes. Essa tarefa é considerada como obrigação e agora tem adicionada a ela esse peso das inevitáveis frustrações. Comprei uma fritadeira elétrica justamente para colocar o alimento lá, ir fazer outra coisa e retornar quando estiver pronto. Não tive nem tempo de desfrutar dessa praticidade, na mesma semana descobri essa gordura visceral.

Estou cozinhando atualmente (e usando a air fryer, ainda que menos), mas para amenizar a situação, costumo colocar uma musiquinha ou um podcast no fone enquanto sigo à risca algumas receitas. A maioria delas são da Rita Lobo ou do Mohamad. Inclusive esse homus ali da foto é uma receita dele que segui passo a passo e ficou uma delícia. Para se ter uma ideia, tinha um tahine fazendo aniversário na dispensa, próximo a vencer. Comprei em um desses raros impulsos de cozinhar alguma coisa diferente. Comi com pão pita, e todos que experimentaram disseram que estava gostoso e a serotonina prontamente dominou o meu cérebro.

Vou precisar ressignificar o ato de cozinhar, infelizmente, pois há coisas que a vida adulta não nos dá alternativa. De qualquer forma, estou me apegando ao que gosto. Por exemplo, quando a receita dá certo, sinto uma alegria abissal. Gosto de tentar coisas novas e mais desafiadoras que o meu nível de habilidade. Parece loucura, mas funciona enquanto SBP de pensamentos intrusivos. No thoughts, just vibes. Tenho achado bem prazeroso não pensar muito.

Sabe o que me agrada mais do que cozinhar? Comer. Adoro quando a Ana Laura fala do nada que quer preparar um shakshuka ou um curry, ou quando o Pedro me chama para comer uma lasanha, e a última tinha até grana padano! Quando o Edu e o Nélio me convidaram para uma noite mexicana, estava tudo delicioso, mas o chilli me deixou meio assim das ideia. Apesar de a Marcela, ex-MasterChef, me convidar pouco para comer lá, nunca esqueci de um brunch que tinha um pão de erva doce tão perfumado quanto gostoso. A feijoada da Gabi foi tão apoteótica que ficamos no quarto dela, deitados e curtindo um friozinho, e uma parte da turma tinha que cobrir o show do Simple Plan e quase não conseguiu. Não posso esquecer da moqueca do Lucas, que também é um estouro, com ingredientes vindos diretamente de Maceió. Por fim, a minha primeira ceia de ano novo "pós pandemia” foi muito especial com visita de Taiza e Mendy e uma refeição que foi uma mistura do Brasil com o Egito (França).

Se você não está nesta lista por favor me convide para comer na sua casa. Levo um vinho e lavo a louça.

Inclusive, outra coisa que me satisfaz mais é explorar novos restaurantes. Recentemente, a Yu tem me apresentado lugares maravilhosos no Bom Retiro, bairro que, imperdoavelmente, conhecia pouco. Tenho vontade de ir no Shoshana lá, talvez role essa semana (Isabela Yu, please come to Brazil). Coloquei na cabeça que quero experimentar comida tipicamente judaica, de preferência feito por eles mesmos. Tenho a suspeita de que essa vontade tenha surgido a partir da newsletter ou blot da Nath Levy. Aliás, gostaria muito ter esse livrão aqui que foi mencionado em alguma edição da Eater:

Enfim, espero que o fio condutor desta edição tenha se mantido claro. A pandemia me colocou em caminhos que nem sempre gosto de acessar, mas tenho entendido a importância deles. Já entendi que cozinhar comidas mais saudáveis, fazer exercícios, principalmente pilates, é uma constância para reparar esses prejuízos. A grande questão é me divertir durante o processo, tentar tirar proveito, prazer e, por consequência, serotonina, dessas novas rotinas.

Até a próxima

Acho que essa edição ficou mais densa que a primeira, mas tentei de novo ter um fio de pensamento para nortear assuntos, algo que nos feedbacks, algumas pessoas gostaram. Não sei se ficou tão divertido assim de se ler, podem me avisar. De qualquer forma, vou tentar compensar nos links abaixo!

Cinco vídeos do Tik Tok que vi na minha For You e achei interessantes:

@casacavaliere

The craziest, wildest story ever- How I found picasso at the thrift store #storytime #picasso #artistsoftiktok #thrift #thrifted #thriftin... See more

@dtstrends

The public has questions... @sineadbovell 's latest take on this is important!🔎 Reporting on the latest Levi's controversy working with ... See more

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🎵Día de mostrarte a el arte de Arca, que seguro está en tu playlist y tal vez no lo sepas🖤 🎹Es anecdótico la cantidad de artistas de renom... See more

@leftistsquidward

4 Latin American books you should read #booktok #books #bookrecommendations #latinamerica #latinamerican #robertobolaño #distantstar #ma... See more

É isso então, hein? Eu tenho mais indicações, mas acho que essa edição ficou grandona já. Vou usar em outras oportunidades.

Mais uma vez, obrigado por me ler.

Até a próxima.

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